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A Monitorização de Homicídio Trans da TGEU de 2025 revela uma nova tendência em violência anti-trans: Sistematicamente fazer de alvo a activistas e líderes de movimentos

Novos dados globais da Monitorização de Homicídio Trans de 2025 (TMM) da TGEU, revelam uma perigosa mudança: um número crescente de vítimas de assassinato são líderes e activistas de movimentos trans. Ao longo do ano passado, activistas trans foram contabilizades como 14% dos homicídios registados e são globalmente o segundo grupo mais atingido, depois de trabalhadoris do sexo. O aumento dos assassinatos de activistas trans ano-após-ano mostra que esta é uma tentativa em silenciar aqueles que lutam por direitos trans mundialmente.

Marcando o início da semana de Consciencialização Trans de 2025, indo ao encontro do Dia da Memória Trans a 20 de Novembro, a TGEU- Trans Europe and Central Asia- lança a actualização anual do seu projecto global de Monitorização de Homicídio Trans. Esta investigação tem documentado os assassinatos de pessoas trans e de género diverso desde 2009.

Principais conclusões 

  • 281 pessoas trans e de género diverso foram registadas como assassinadas entre 1 de Outubro de 2024 e 30 de Setembro de 2025.
  • Desde 2099, a monitorização da TGEU registou até agora 5320 assassinatos mundialmente.
  • Trabalhadoris do sexo (34%) permanecem como o grupo mais atingido de todas as profissões conhecidas.
  • Existe um aumento notável de assassinatos de activistas e líderes de movimentos, que são o segundo grupo mais atingido por profissão este ano, contabilizando em cerca de 14% dos casos (mais que 9% em 2024 e 6% em 2023).
  • Ecoando o padrão de anos anteriores, 90% dos assassinatos denunciados foram femicídios (vítimas foram mulheres trans ou pessoas transfemininas).
  • 88% das vítimas foram pessoas trans Negras ou Marrom, uma redução de 5% em relação ao maior número  de todos os tempos contabilizado no ano passado (93%).
  • Distribuição de idade: 24% das vítimas de assassinato tinham idades entre os 19-25 anos, 25% de idades entre os 26-30, 26% de idades entre os 31-40, e 5% tinham menos de 18 anos.
  • 68% dos assassinatos ocorreram na América Latina e Caraíbas; Brasil lidera na lista pelo 18º ano consecutivo com 30% dos casos totais.
  • Cinco casos foram denunciados nos Estados Unidos, descendo dos 41 em 2024.
  • 44% dos assassinatos denunciados foram a tiro.
  • 25% dos assassinatos ocorreram na rua, e 22% ocorreram na casa da própria vítima.

Como em anos anteriores, mulheres trans negras e racializadas, e pessoas trans trabalhadoras do sexo, são sobre-representadas entre as vítimas de assassinato, com trabalhadoras do sexo (34%) sendo o grupo mais atingido de todas as profissões conhecidas. Isto destaca como a misoginia, o racismo, a xenofobia, e a putofobia intersectam de formas mortais.

Nos últimos dois anos, os assassinatos de activistas trans e de líderes de movimentos duplicaram“, diz Deekshitha Ganesan, Gestora de Políticas na TGEU.

“Este aumento é uma tentativa deliberada em silenciar todes aquelis que defendem a liberdade e a igualdade. Estes assassinatos são a consequência mais extrema de discurso político que desumaniza pessoas trans. Governos devem agora agir para proteger defensoris de direitos trans e assegurar que comunidades trans possam viver e organizar-se de forma segura.”

Cada activista assassinade representa uma comunidade silenciada“, diz Freya Watkings, Funcionária de Pesquisa Sénior na TGEU.

“Governos e instituições devem apoiar a sociedade civil, harmonizar leis de crimes de ódio, e descriminalizar o trabalho do sexo para acabar com esta violência”.

“Nestes tempos repressivos, a visibilidade trans é um mal duplo. Por um lado, estamos a ser invisibilizades quando se trata de necessidades básicas e cuidados. Por outro, fazem de nós alvos visíveis do ódio e da repressão, especialmente as pessoas mais marginalizadas das nossas comunidades e activistas trans que lutam. Estamos aqui e não recuaremos. – Isa Nico Borrelli, co-presidente da TGEU.

Outras tendências

Um total de 281 pessoas trans e de género diverso foram assassinadas desde a actualização de 2024, uma descida em relação aos 350 casos do ano passado. Contudo, esta redução não indica necessariamente um aumento de segurança. Mais possivelmente reflecte uma crescente invisibilização desses assassinatos em registos mediáticos- uma tendência que pode estar a ser alterada por mudanças em motores de pesquisa e algoritmos de redes sociais ou desinteresse mediático generalizado, o que pode tornar os assassinatos mais difíceis de identificar e verificar.

“Desde 2020, tenho notado uma descida neste tipo de notícias, o que pode ser devido à invisibilidade desde incidentes ou um aumento em denúncias não declaradas”, diz Sayonara Nogueira, Observatório Trans & Rede Trans Brasil.

“Não é possível alegar que a informação e os resultados aqui apresentados representam todos os homicídios e violência contra pessoas trans, devido a limitações durante a monitorização e a falta de dados do governo.”

Por muitos dos homicídios serem denunciados de forma incompleta, ou omitidos, muitas vezes por atribuição incorrecta de género, estigma ou falta denúncias não declaradas nos media, o número real de assassinatos é muito provavelmente bem maior.

Ao mesmo tempo, o ambiente mais amplo de violência contra comunidades trans está a intensificar-se. A hostilidade anti-trans apoiada pelo estado está simultaneamente a legitimar a violência e a enfraquecer as proteções de direitos humanos, deixando pessoas trans cada vez mais desprotegidas e expostas.

Este ano, a Ásia foi a única região globalmente onde os casos aumentaram em comparação com 2024, com um total de 51 casos – o maior número alguma vez registado na região, constituindo 18% do número global. O Paquistão registou o maior número de assassinatos na Ásia em 2025, ultrapassando a Índia. Em termos do maior número de casos de sempre, o Paquistão está agora classificado como sétimo globalmente, tornando-o o país Asiático com  maior classificação  depois da Índia.

Entretanto, os dados sugerem que a maior parte das regiões estão a experienciar uma tendência de decrescimento em assassinatos denunciados com pessoas trans como alvo. A América Latina e as Caraíbas continuam a representar o número esmagador da maioria dos casos, com o Brasil, México, Colômbia e Venezuela tendo os maiores números na região. Contudo, o número registado em 2025 foi abaixo de 200 –  a primeira vez em que o total foi menos que este limite nos últimos 15 anos. Casos na América do Norte estão de volta a níveis pré-pandemia, depois de terem subido ao maior pico de todos os tempos nos últimos quatro anos. Na Europa, o número de assassinatos este ano (5) é o mais baixo registado desde que o TMM começou em 2009.

Contexto e recomendações 

O número alarmante de assassinatos de activistas trans destaca a dura realidade da diminuição de espaços democráticos, onde líderes de movimentos estão cada vez mais sob ataque, tornando-se alvo por quem são e pelo seu trabalho defendendo a igualdade e os direitos humanos.

Várias organizações da sociedade civil e líderes de movimentos operam em ambientes hostis, sem apoio ou enfrentando repressão pelos seus próprios governos.

A TGEU recomenda que governos e instituições:

  • Apoiem organizações trans defensoras de direitos humanos e sociedades civis aliviando pressões financeiras, assegurando a sua segurança, e possibilitando a que continuem a organizar-se e a advogar sem medo.
  • Harmonizem e adoptem legislação de crime de ódio e anti-discriminação que explicitamente proteja pessoas trans e desenvolva entendimentos comuns do que constitui discurso de ódio ilegal.
  • Providenciar treino a profissionais para responderem apropriadamente a violência anti-trans, particularmente para quem enfrenta formas intersectantes de discriminação, como mulheres negras trans e trabalhadoris do sexo.
  • Descriminalizar o trabalho do sexo e assegurar protecções laborais para pessoas trans e de género-diverso.

Um novo website para o TMM

Este ano, a TGEU lançou um novo website de Monitorização de Assassinato Trans, usando Uwazi, uma plataforma de gestão de dados sobre abusos de direitos humanos. O novo website apresenta um mapa actualizado com casos geolocalizados, visualizações de dados de todos os tempos, e informação detalhada sobre os assassinatos individuais denunciados à TGEU desde o início do projecto em 2009.

Parceiros

  • Tranz Network Uganda (Uganda)
  • Asociación de Derechos Humanos Cozumel Trans (Honduras)
  • Asociación Silueta X (Ecuador)
  • Association Unity (Togo)
  • Caribe afirmativo (Colombia)
  • Centro de Apoyo a las Identidades Trans (Mexico)
  • HOPE- Have Only Positive Expectations (Pakistan)
  • Jaringan Transgender Indonesia (Indonesia)
  • Jinsiangu (Kenya)
  • LakanBini Trans Network (The Philippines)
  • Mawjoudin (Tunisia)
  • Observatorio de violaciones a derechos humanos de personas LGTBIQ+ en Nicaragua (Nicaragua)
  • OTRANS Guatemala (Guatemala)
  • Qorras (Lebanon)
  • Queer Art and Action (India)
  • Rede Trans Brasil (Brazil)
  • Trans Lives Matter (United Kingdom)

Nota em relação ao termo femicídio

A TMM usa feminicídio ao invés de femicídio já que reflecte melhor as causas estruturais e políticas de violência contra mulheres e meninas. Criado por Marcela Lagarde na América Latina, o termo dá ênfase à responsabilidade do estado e as falhas sistémicas de prevenção, proteção, e responsabilização que permitem tais assassinatos.

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